domingo, 14 de julho de 2013

[Coluna] O grande incentivador

Foto: Alex Silva / Estadão

Por Nathalia Guarezi


Convocado para uma missão quase impossível, ele entrou na Academia de Futebol consciente de que seria o líder de um grupo perdido no meio de uma guerra. Seu único objetivo era evitar que o não tão imponente alviverde fosse combatido após dois meses de conquistar a faixa de maior campeão brasileiro. Naquele momento, o clube tinha apenas 8% de chances de sobreviver na primeira divisão do principal campeonato do país.

Antes de encarar o evento organizado para jornalistas e torcedores conhecerem seu discurso como novo treinador do Palmeiras, ele conheceu os atletas e comandou seu primeiro treino. Ali, demonstrou uma das principais características de sua personalidade: um grande incentivador.

“Beleza, Juninho. Acertou dez e errou uma. Está ótimo”. Foi assim que Gilson Kleina se apresentou ao grupo de jogadores, em setembro de 2012. Depois, na sua primeira coletiva de imprensa, explicou a importância de enaltecer os pequenos acertos num contexto de guerra e desesperança vivido pelo clube.

Sua vontade de manter o time na Série A era grande, mas insuficiente para fazer o limitado grupo de jogadores mostrarem qualidade dentro de campo. Kleina, então, começou a temporada de 2013 com o time rebaixado e, de quebra, com o elenco reduzido. Apenas 18 atletas seguiram no Palmeiras. Com a chegada do novo presidente alviverde, Gilson ainda viu a melhor peça do time ser vendida para o sul, numa negociação estranha que até hoje boa parte da torcida contesta (com razão).

Com obstáculos conquistados pela própria diretoria, que desde sempre deixou claro que não faria contratações de peso, Kleina levou o Palmeiras até as quartas de final do Campeonato Paulista. Antes, treinou seus jogadores para não perderem os clássicos contra Corinthians, São Paulo e Santos. Como recompensa, o time jogou melhor as três partidas, principalmente contra o alvinegro da capital, e merecia ter saído com a vitória.

No meio disso tudo, o treinador quase se despediu da Academia de Futebol naquela noite em que todos os palmeirenses sonham em tirar da memória. Os seis gols do Mirassol ainda ecoam na mente alviverde. Para a sorte de Kleina, a diretoria não quis abrir mão do misterioso planejamento que traçou para 2013.

Seu Gilson ficou no Palmeiras e, como forma de agradecimento, comandou o time até as oitavas de final da Libertadores. Desacreditados, treinador e jogadores ganharam a confiança da torcida, mas não souberam lidar com algumas limitações. De forma bizarra, o Palmeiras conseguiu ser eliminado por um enjoado Tijuana, no lotado Pacaembu.

Sobrava, então, o momento de mostrar serviço na Série B. Com isso, Kleina foi ajudado com a parada para a Copa das Confederações e também viu jogadores chegarem ao clube. “Trabalhei muito em cima da oscilação da equipe e hoje estamos encaixando o time dentro do que imaginamos no futebol atual”.

 Foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press
São 46 atletas disponíveis para o treinador quebrar a cabeça e montar um time com padrão tático (o que ele já está fazendo, como bem explicou o Dimitrius nesse post). Eu, que tanto critico o treinador e já pedi a sua saída, preciso ser justa com o Kleina.

Seu discurso atual é coerente com o que mostrou logo na primeira coletiva como treinador do Palmeiras. A diferença é que agora ele tem boas peças para trabalhar. Assim, a torcida pode cobrá-lo com mais firmeza (aliás, quero saber por que o Vilson não voltou como titular no último jogo).

Na vitória contra o ABC de Natal, aliás, Kleina chegou a 51 jogos que parecem 251 como treinador do Alviverde. Oficialmente são 50 partidas, já que contra o Oeste ele estava suspenso e não assinou a súmula. Ao todo, são 23 vitórias, 11 empates e 17 derrotas. O aproveitamento não empolga muito. Mas é justamente agora que o técnico tem um bom elenco para mudar esse cenário.

O grande incentivador que durante os jogos ficava à beira do gramado apenas motivando seus jogadores (“vai, Vinícius, vai”), pode agora se dar ao luxo de ter padrão tático e, por que não, sobrar na Série B. Assim, ele terá mais uma ambição: comandar o time no ano de seu centenário.

2 comentários:

  1. PorcoPress provando que um texto de qualidade não precisa ser complicado.

    É isso.

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  2. O Kleina tem a faca e o queijo na mão. Tenho sérias restrições com ele enquanto treinador do Palmeiras, mas é o que temos para hoje, os jogadores aparentam gostar dele e até o final do ano tem que ser com ele mesmo.

    E bela análise.

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