[Coluna] A mágoa com Valdívia explica muito o palmeirense

Foto: Lancenet

Por Felipe Portes

Parece muito fácil explicar por que o palmeirense em geral odeia Valdívia. Ora, ele sempre está machucado, custou caro demais aos cofres do clube desde 2010, quando foi apresentado pela segunda vez e precisou de um bom tempo de adaptação antes de efetivamente jogar. Não é só birra com o chileno, por ele não jogar quase nunca. É muito mais do que isso.

A questão é que você lidar com um ídolo jogando pelo seu time sem demonstrar a mínima paixão e sobretudo interesse de vestir a camisa, é algo que dói. E claro, lidamos diariamente com as piadinhas de "é, seu ídolo machucou de novo". Falo de forma magoada porque realmente perdi todo o respeito que tinha pelo jogador. Aquele cara que foi bem em 2008 parece não se esforçar para voltar à velha forma.

Por vezes ele forçou ser negociado, dificultou seu retorno aos gramados. Isso todo mundo vê, exceto o pessoal mais iludido que por sinal ainda acha que Kléber seria bem vindo em uma terceira passagem. Talvez devêssemos olhar um pouco para o passado e lembrar que o último grande ídolo da torcida que deu certo numa segunda passagem foi mesmo Evair. Felipão não conta, não estava em campo para evitar os gols que levamos no rebaixamento em 2012. 

Neste ano, assim que Barcos foi apresentado ao Grêmio, comentei na Trivela como nós palmeirenses queimamos com facilidade os candidatos ao posto de ídolo. Banalizamos um pouco o significado da palavra, endeusamos a importância de jogadores que fazem qualquer coisa mínima pelo time e entram para a história. Sim, precisamos ser mesmo exigentes, mas qualquer perseguição que ultrapasse a relutância e se transforme em violência é errada. 

Seis anos depois de sua chegada, Valdívia conseguiu ofuscar todo o sucesso que teve no Palmeiras. No geral, cansamos de ver desculpas esfarrapadas para lesões, chutes no ar que culminam em problemas musculares e um chinelismo crônico dele, que usa a sua fragilidade física para se defender das críticas. Passou cento e tantos dias de 2013 no celeiro e voltou contra o Oeste no último sábado, jogando de forma razoável, e lá foi grande parte na mídia na onda de empolgação: "Valdívia calou os críticos, jogou muita bola, o Mago está de volta". 

Não, ele não está de volta. E se for um atleta realmente empenhado, não vai se preocupar só em calar os críticos, mas também calar a corneta dentro de cada palmeirense insatisfeito com a sua constante ausência. Tomam qualquer atuação nota 7 dele como uma redenção, o que soa sempre muito exagerado. Bem lá no fundo, nós esperamos que ele volte a ser decisivo, não sofra uma contusão a cada mês e que acima de tudo pare de falar abobrinhas quando entrevistado. 

A cartilha do bom jogador diz que ele deve fazer o seu papel em campo e não dar vazão às polêmicas. Quando o chileno resolver abandonar o perfil midiático e voltar a ser mais profissional, talvez aquela relutância comece a desaparecer. Mas será que podemos contar com essa epifania por parte dele?