terça-feira, 21 de abril de 2015

[Crônica] A comemoração é cabida. Descabido era o Palmeiras fraco. Descabido é o medo dos rivais...

por Filipe Rufino, do Palmeiras Stuff

Era óbvio que aconteceria. Se o Palmeiras passasse pelo time de Itaquera, antes mesmo dos festejos começarem, os sommeliers de comemoração iriam fazer a típica acusação: COMEMORAÇÃO DESCABIDA!



Não é a primeira vez nesse ano. Quando trouxemos Alexandre Mattos, que até duas semanas antes era o grande nome do bicampeonato brasileiro do Cruzeiro, disseram: "Não adianta nada contratar gestor, esse cargo é superestimado! Diretor não faz milagre!". Fez. Contratou 21 jogadores de qualidade - no mínimo - razoável. Deu chapéu em dois rivais que estavam há dois meses contando moedas para contratar Dudu. Resolveu a situação em três horas e escancarou a incompetência dos outros. E então os debates intermináveis regados pelos lances do talentoso Dudu no último brasileirão SUMIRAM. A pauta nos programas esportivos agora era: "Dudu não vale tudo isso! Estão fazendo leilão por um jogador comum!"

Além da mudança REPENTINA na abordagem da situação Dudu, não houve nenhuma sensibilidade para entender o porquê da empolgação dos palmeirenses. O jogador poderia ser o Zezinho das Couves: o chapéu duplo era um sinal de que os tempos mudaram. Agora, quem olhava de cima pra baixo e escolhia os melhores atletas no mercado era o Palmeiras. Era a nossa auto-estima recuperada.

Quatro meses se passaram e o Palmeiras cumpriu sua obrigação no Campeonato Paulista: após uma remontagem completa do elenco, estava entre os quatro melhores times do certame. Tinha então o maior desafio dos últimos dois anos: vencer o melhor time do Brasil em seu estádio - coisa que nenhum adversário conseguira desde a inauguração do campo, há quase um ano.

E o Palmeiras jogou pra vencer. Um jogo de paulistinha? Uma semifinal de campeonato? Um dérbi, senhores. Um dérbi em que quem perdesse estava fora. Se você não entende o tamanho desse jogo, não deveria ser um torcedor de futebol. E novamente, o momento histórico não pode ser ignorado antes de avaliar a comemoração alheia: o time que há quatro meses e meio poderia ter caído para a Série B de forma melancólica no ano de seu centenário venceu o time do aclamado Tite - jogando melhor, mas com direito aos pênaltis e a consagração de Fernando Büttenbender Prass.

A espera foi descabida. Não vencíamos um jogo de mata-mata contra eles desde 2000. Nesse ínterim, mais perdemos do que vencemos. Em 2011, a semifinal de paulistão foi para os pênaltis. No gol, tínhamos Deola e na cobrança decisiva, João Vitor. Isso sim é descabido. Quem fez o gol do Palmeiras naquele jogo foi o descabido Leandro Amaro. Nesse mesmo ano o Palmeiras venceu o dérbi pela última vez. O jogo foi em Presidente Prudente - um descabimento. Durante os últimos 15 anos o Palmeiras esteve duas vezes na Série B. E todos sabem que o Palmeiras não cabe na segunda divisão. O Palmeiras é grande demais pra isso.

Já a comemoração foi mais que cabida, como não? Desde que eu me conheço por gente, vitórias em dérbis são acompanhadas de churrascada, chuva de rojões, buzinaços. E de zoação. Coisa que os neo corintianos parecem não estar acostumados. A elitização da torcida corintiana e o recente momento de glórias do time transformou a torcida sofrida em torcida arrogante. Uma torcida sofrida que não sabe perder. Os torcedores do time do povo - que joga em um estádio com mármore por toda parte enquanto passa o chapéu pra pagar o BNDES - entraram em pane. Acusaram o golpe. Está cristalino: desta vez é diferente. O Palmeiras voltou a ser temido.

(Foto: ESPN)

E então as acusações deixaram de ser dos corintianos. Vieram de todos os lados - inclusive da imprensa. Novamente: acusaram o golpe. 114 mil sócios torcedores contribuindo mensalmente para a manutenção de um elenco forte. Um estádio que rende milhões semanais. A dívida reestruturada e profissionais sérios trabalhando nos departamentos mais importantes do clube. Chuva de patrocinadores. Média de público inimaginável no campeonato estadual. Até os naming rights do canal do Palmeiras no Youtube foram vendidos por incríveis R$ 1,3 milhões anuais. A estrada dos meios para a montagem e manutenção de uma equipe vencedora foi pavimentada.

O Palmeiras pode não ser campeão paulista contra o Santos. Mas vai ser campeão de muita coisa se continuar sendo dirigido com tanta destreza. O Palmeiras pode não ter o melhor time do Brasil. Mas vai ter com a continuidade do trabalho e correções pontuais. O Palmeiras está no caminho certo. E os rivais puderam sentir o quão perigoso o Palmeiras pode ser se fortalecido. O medo bateu. Mas esse medo ainda é descabido, rivais. Fiquem calmos. Estamos só começando...

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