quarta-feira, 21 de agosto de 2013

[Coluna] Longe da “quitação”

Foto: Ari Ferreira/Lance!Press
por Rogério Perazolo

E ele voltou. E fazendo barulho. Após quase três anos de muito dinheiro gasto, polêmicas, fofocas, chutes no ar, tweets, baladas, contusões, promessas de mudanças e, bem de vez em quando, um futebolzinho (que ninguém é de ferro...), Jorge Valdivia conseguiu emplacar seis partidas consecutivas pelo Palmeiras (marca que não atingia desde o já longínquo janeiro de 2012). Mesmo assim, alguns gols e lances plasticamente bonitos reacenderam a velha e teimosa chama da esperança naqueles que ainda sonham rever nele o mesmo jogador que se tornou ídolo entre 2006 e 2008.

Contudo, após um providencial descanso contra o São Caetano e um retorno diante do Paraná, as notoriamente precárias condições físicas do chileno voltaram às manchetes, graças ao corte do amistoso da seleção de seu país para o qual fora convocado.

E ele voltou a se tornar um jogador controvertido.O que mais causa polêmica em Valdivia, sem dúvida, é sua relação custo-benefício. Os números apontados no levantamento do site Verdazzo são assustadores, ainda mais quando se recorda que Luiz Gonzaga Belluzzo, em ato digno de um geraldino destrambelhado e não de um renomado economista, raspou até o último centavo dos cofres do clube, que já andavam cambaleantes, para repatriá-lo em julho de 2010. Além dos oficiais 6,2 milhões de euros pagos aos árabes, a transação foi marcada por uma verdadeira farra de comissões (até o pai do atleta teria dado sua “mordida”) e virou uma obscena bola de neve de juros bancários (que só deve terminar de ser paga em 2016, ou seja, meses depois do final do contrato do meia) na catastrófica gestão de Arnaldo Tirone.

E estamos vivendo esta situação incômoda, de certa forma, graças a uma triste realidade: a extrema carência da torcida palmeirense (que em 2006/07 já sofria com times horríveis, cartolas risíveis e títulos constantes dos rivais) foi responsável por uma extrema sobrevalorização do chileno. Era tentador demais para resistir: um meia sem dúvida habilidoso, irreverente, de carisma realçado pelo sorriso fácil e “tiradas” espertas nas entrevistas. Era um oásis de talento e esperança em meio a um árido deserto formado por Wendels, Rodrigões e Marcinhos Guerreiros. E o título estadual em 2008, quebrando um jejum de doze anos, aliado a provocações como o “chororô” contra o recém-rebaixado Corinthians, o “calaboca” para o odiado Rogério Ceni e, claro, o famigerado “chute no vácuo”, consolidou o amor.

Amor tão forte que foi até capaz de mascarar graves defeitos do amante: se esbanjava toques de efeito, dribles bonitos e facilidade para enfiar uma bola em meio à defesa para os atacantes, este também tinha um chute sofrível, raros gols, facilidade de se entregar à marcação em jogos importantes em geral (foram apenas três gols em clássicos, um de rebote contra o Corinthians, e um de pênalti e outro praticamente sem goleiro diante do São Paulo, e todos no Paulistão 2008) e, o mais grave, infinitas suspensões, quase todas por reclamação, e a maioria delas tão infantis que tornavam inevitáveis as suspeitas de “fuga” intencional de jogos mais difíceis ou de viagens mais longas. Mas um abusado gesto de silêncio “pro bambi Ceni”, para o torcedor médio, supera isso tudo. E o título estadual acabou sendo jogado por muitos em suas costas, mesmo fazendo parte de um conjunto sólido formado por Marcos, Pierre, Henrique, Alex Mineiro, Kléber, Léo Lima (sim, ele deu uma enganadinha por um semestre), e os laterais Élder Granja e Leandro (que depois se tornaram uma tragédia, mas esta é outra história...).

As “viúvas” regozijaram-se com o retorno, dois anos depois. Mas havia alguns problemas. O elenco era muito mais fraco; e enfim alguns se deram conta de que Valdivia, embora tenha evidentes qualidades técnicas, não tinha estofo para “carregar nas costas” um punhado de jogadores sofríveis. E aos defeitos que já mostrava na primeira passagem, o jogador adicionou um novo e terrível: a condição física, deteriorada após uma passagem por um futebol de baixíssima competitividade aliada a um estilo de vida pouco ou nada regrado fora dos campos.

Desnecessário relembrar tudo que se passou de agosto de 2010 até junho deste ano. Mesmo os raros momentos de alegria, como o gol de pênalti contra o Coritiba na ida da final da Copa do Brasil, foram seguidos de vacilos quase imediatos (a expulsão infantil na mesma partida). E Valdivia voltou, em julho último, com novas promessas de mudança e “foco”, e admitindo ter dívidas pelos anos anteriores (bom por um lado, mas por outro deixando clara a preguiça e indolência que mantinha até então).

O desempenho nos últimos jogos animou a maior parte da torcida. Mas não dá para esquecer que se trata de uma Série B, com todo o respeito aos adversários (que não têm culpa de terem o Palmeiras em meio a eles, isso deve ser imputado a Tirone, Mustafá, Frizzo e cia. bela). Valdivia está “brilhando” no mesmo campeonato que já consagrou gente folclórica como Val Baiano, Zé Carlos e o atual goleador da competição, Bruno Rangel, que só surgiu agora, aos 32 anos, e um rosário de times de pouco expressão no currículo.

A dívida ainda não está paga. Na verdade, ainda nem começou a ser. E nem será paga neste ano, com a Série B. A não ser que ocorra uma extraordinária atuação na Copa do Brasil (que já não o terá no jogo de logo mais, diante do Atlético-PR, em virtude de, sim, uma nova contusão...), fica tudo para 2014. O alento para o torcedor é que desta vez parece haver outras boas opções de criação no elenco (Mendieta, Felipe Menezes e Wesley), tornando-o menos dependente do imprevisível chileno.

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