sexta-feira, 25 de abril de 2014

[Coluna] A Garrafinha Prometida

Municipal lotado em Dia de Palmeiras (Acervo Pessoal)
 por Ricardo dos Santos

No fatídico jogo contra o Ituano, nossa colega de Porco Press a Nathalia foi impedida de entrar com uma máscara de porquinho, e o motivo alegado pela PM foi... porque não.
Esse fato me fez relembrar o que é assistir um jogo do Majestoso da Pompéia no Municipal, seus prós e contras, e uma passagem que também envolveu a polícia.
Vem comigo.

Antes de mais nada, se quer saciar seu lado histórico, a partida em questão foi um modorrento 0 x 0 entre nós e o São Caetano pelo Brasileiro de 2012 (eita ano horrível), sendo a única decepção em dia de estréia de minha filha em jogos do alviverde.

E por ser uma partida sem gols, ressalta ainda mais a experiência de assistir o jogo no estádio, mesmo que o protagonista não dê as caras e acabarmos com o grito preso na garganta, guardado para outra ocasião.

A chegada - que contarei em detalhes no episódio "Rolêzinho de Trio Elétrico", a conferir - foi um pouco mais festiva que as dos outros torcedores, mas como é habitual, esperamos o início do prélio na Praça Charles Müller, munidos de um isopor com algumas cervejas.

Ok, várias.

Um oficial da polícia militar se aproximou, e perguntou se poderia guardar em nosso isopor uma garrafa de refrigerante, somente enquanto a viatura não chegasse, para não esquentar - cena típica de propaganda da corporação.

Concordamos - óbvio - e ele começou a conversar: perguntou o nome da minha filha, e com a resposta já emendou que era o mesmo nome de sua neta e assim foi.

Neste momento, mentalmente eu adicionava nas opções "Passeios Familiar" as próximas partidas que o Palmeiras fizesse em nossa casa alugada - mas logo vi que me precipitei.

Quem leu meu primeiro post sabe que carrego uma mistura de "azar natural" combinado com meu jeito atrapalhado, o que resulta sempre quase sempre em confusão - e desta vez não foi diferente.

Uma vez esvaziado o isopor, nos despedimos do oficial - que neste momento já havia colocado seu refrigerante na viatura e gritava com um taxista que queria deixar uma jornalista na porta do Pacaembú, estilhaçando a impressão inicial do "seu polícia gente boa" - e nos dirigimos para a entrada.

A cerveja fez efeito, e ao indagar por banheiro meu amigo apontou e disse "Ali".

Neste momento eu me senti (mais?) meio burro, porque na direção que seu dedo indicava, eu só vi alguns policias montados em seus cavalos - precisa meesmo de tanta gente? - e uma árvore.

Se eu me senti constrangido de "ir na árvore" com famílias completas passando por mim e fazendo vista grossa, a amiga leitora já deve ter imaginado que banheiro feminino só dentro do estádio.

Continuei a caminhar - agora com um pouco mais de pressa - e fizemos a fila para a revista, eu, a minha digníssima e minha filha, mas antes mesmo de entrar no caminho cercado por grades, ouvia a voz de um homem da lei que disse "SENHOR, O SENHOR NÃO VAI PODER ENTRAR COM ISTO NÃO, OK?".

Trocamos olhares entre nós três, nos viramos para o guarda e mesmo quando eu perguntei ao que ele se referia, continuou com um olhar fixo, para algum lugar acima da minha cabeça, e a resposta foi apontar a garrafinha do título e dizer "ISTO SENHOR".

Automaticamente minha digníssima fez a cara de "e agora Ricardo?", e minha filha mudou para aquela expressão que antecede o choro, que todo pai conhece.

Pressionado pelos familiares, meu argumento digno de um grande jurista foi: "Mas está vazia..."

Devo destacar que ao me ouvir o oficial deixou de olhar "o nada", e fixou os olhos em mim com uma expressão pouco amigável, e disse em tom gélido "COM A GARRAFA NÃO VAI ENTRAR SENHOR".

A expressão de choro passou para mim, mas a minha digníssima teve uma ideia: (idiota, lógico que não iria dar certo né?): porque não esconder o objeto perto de uma árvore, e pegar no fim do jogo?

Agora quem olhava com cara de Capitão Nascimento prestes a subir o morro era eu: que raio de idéia estúpida era aquela? Milhares de pessoas passariam por ali e - óbvio - uma delas pegariam o squeeze, mas como eu não tinha nenhuma outra solução a oferecer, aceitei (de extrema má vontade, mas aceitei).

Entramos e a partida transcorreu de forma maravilhosa (na arquibancada né gente, calma lá): faixa, bandeiras que sobem, gritos da torcida e cantamos o hino inúmeras vezes, e lembrei do que minha filha havia dito quando estávamos no caminho: "Nossa pai, nunca vi tanto palmeirenses!"

E este evento quase mágico, que muitos dirigentes, cartolas, os que faturam com o futebol parecem não valorizar, fez com que uma garotinha não se lembrasse, durante 90 minutos e uns tantos, que teve de se desfazer do presente que havia ganho na parte da manhã.

Tá faltou o gol, o grito de comemoração, mas uma vez dado o primeiro passo no caminho de ver seu time ao vivo, mesmo diante de tantas dificuldades, é um processo sem volta, e para minha filha não faltará oportunidade de gritar a plenos pulmões os gols do Majestoso da Pompéia...

A garrafinha? Ah tá, voltamos ao local que deixamos e... ela não estava lá.

Procurei mais um pouco, andei e quando me virava para ir, a Beatriz gritou: "ACHEI!" e continuo: "Está cheirando a suco de pózinho!"

Até hoje trabalho com duas hipóteses: a primeira é que algum pai/mãe tão idiota quanto eu achou o squeeze, colocou suco e tentou entrar, não conseguindo (também) escondeu no mato para pegar depois.

A segunda - que particularmente eu prefiro - é que a garrafinha já estava prometida, compromissada, ligada de forma sentimental a sua dona, assim como nós estamos ao Palmeiras.

Tenho até hoje sobre minha mesa de trabalho...

Nenhum comentário:

Postar um comentário