segunda-feira, 21 de abril de 2014

[Brasileirão] Em todos esses anos nessa indústria vital

por Filipe Rufino

É típico do Palmeiras, já diria Dimitrius Pulvirenti. Abrir o placar no começo do jogo, perder inúmeras chances e não matar a partida. É típico do Palmeiras ter um pênalti claríssimo não marcado a seu favor. É típico do Palmeiras, após quase 85' minutos no controle da peleja tomar dois gols. Gols típicos de Palmeiras: uma bola desviada e um centroavante que emerge no meio do nada, sem ninguém pra marcar. É típico do torcedor do Palmeiras lotar o estádio, ficar eufórico com o time e se decepcionar miseravelmente no final do jogo.

Acontece que em todos esses anos nessa indústria vital do Brasileirão de pontos corridos, foi a primeira vez que isso aconteceu a nosso favor. Ok, pode não ter sido exatamente a primeira, mas quantas vezes vimos isso acontecer? 503 dias depois do nosso último jogo na Série A, aconteceu.

O jogo foi aberto com efusivos aplausos da torcida local ao gigante Luciano do Valle. Aliás, a atmosfera do Heriberto Hülse é, de longe, a mais fantástica da Série A. Aconchegante, o estádio acolheu 11.768 torcedores que alentaram o Borussia brasileiro durante os 90 minutos. Uma legítima torcida sudaca.

Aos 11 do primeiro tempo, Paulo Baier, o interminável, levantou a bola na área e Alan Kardec, sedento por uma cabeçada certeira, fez contra; o juiz deu o gol para Baier. O Palmeiras já estava desorganizado em campo e a situação piorava a cada minuto. Em um recuo malfeito, o Criciúma quase ampliou. Marcelo Oliveira, em rara chance do Palmeiras, perdeu um gol cara a cara com Bruno - chutou por cima.

Veio o segundo tempo e o ciclo do jogo era o mesmo: a defesa se desfazia da bola > não conseguíamos trocar passes, penetrar, sequer segurar a bola no ataque > o Criciuma contra-atacava com muito perigo, principalmente com Silvinho e Eduardo. Foi aí que Fernando Prass mostrou que definitivamente é um dos melhores goleiros do Brasil. Com grandes defesas, evitou o pior - evitou o vexame.

Nada mudou e o Palmeiras continuava sem conseguir produzir nada. Apenas Valdivia tinha lucidez para tentar mudar as coisas. Ia até os zagueiros buscar a bola, dava combate no meio-campo, roubava, passava e lançava, mas a jogada sempre morria antes de ficar perigosa. Geralmente partindo da esquerda pro centro, o meia foi, de longe, o nosso melhor jogador (de linha) em campo. A presença de Valdivia é fundamental para determinarmos qual será o papel do Palmeiras no campeonato.


Aos 38, o mago dominou na esquerda da grande área, girou e prendeu a bola até a passagem de Leandro que emendou o belo passe do chileno de primeira. A bola desviou no verme gambá filho da puta Escudero e morreu no canto esquerdo de Bruno. Aceso, Valdivia girava pela direita quando foi derrubado - o juiz demorou, mas assinalou a falta. Era óbvio o que precisava ser feito:


O êxtase do palmeirense com o gol de Alan Kardec seria descabido não fossem as circunstâncias: do clube, do time, da partida e de Alan Kardec. O principal centroavante do país não pode ser tratado dessa forma pela diretoria. O Palmeiras não pode se dar ao luxo de perder Alan Kardec. Além de perder um grande jogador, perdemos um candidato forte a ídolo, como bem disse o Fabio Chiorino, dia desses. Vou além: perder Kardec é perder a única chance de ser campeão ainda neste ano. Ele é, definitivamente, diferenciado.



Outro fator que pode acabar com qualquer chance de título brasileiro do Palmeiras é o fator Gilson Kleina. Apesar de tê-lo defendido ferrenhamente na última temporada, está ficando difícil suportar seu time. Após duas semanas de treinos, o Palmeiras ainda apresentou o mesmo futebol desorganizado da partida contra o Ituano. Ofensivamente, Kleina tem opções de sobra no elenco para os mais variados planos táticos (incluindo jogadores que podem fazer várias funções durante o jogo/campeonato). Defensivamente o time parece estar sempre exposto, sem cobertura e desorganizado, com menos jogadores que o adversário. Ele não tem mais desculpa: ou faz esse time jogar ou vai ter problemas.


O Palmeiras volta a campo no jogo-balada do próximo Sábado (26): pega o Fluminense no Pacaembu as 21h. Lotemos o Municipal em busca de mais uma vitória. Jogo de seis pontos.

De acordo com Nick Hornby (que viu seu time ficar 18 anos sem ganhar a liga) após 10 anos de fila, acreditar que seu time vai ser campeão nacional é como acreditar em Deus: você pode ter fé, mas não há o mínimo embasamento científico para tal. Não sei quanto a vocês, mas eu fico feliz por termos São Marcos para interceder em nosso favor.

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