sexta-feira, 18 de abril de 2014

[Coluna] Interminável

Foto: GloboEsporte.com
por Dimitrius Pulvirenti

Ao ouvir a porta da sala de reuniões sendo fechada, Paulo Nobre pensou que aquele deveria ser o mesmo som das oportunidades perdidas.

“Não posso, Alan, eu não posso”, disse, envergonhado, o presidente. Do outro lado da mesa, estava o centroavante, incrédulo. Ele tinha feito todo o possível para permanecer com seus amigos, na cidade em que sua família já estava acostumada a viver, onde iria se casar.

“Presidente, eu… eu não sei mais o que fazer”. Foi o que saiu da sua boca, embora soubesse bem o que teria que fazer para continuar lá. “Preciso pensar”, enquanto se levantava. As palavras deram um pouco de esperança a Nobre. Mas vendo pai e filho deixando a sala, conseguiu entender da boca do mais velho o veredito: “Agora acabou”, enquanto a porta se fechava.

Do seu lado esquerdo, um homem sem cabelo, de meia idade, anotava algo ininteligível em papéis sobre a mesa. Do outro lado, seu principal conselheiro, de calvície natural, mais velho que o primeiro, conferia o celular. “O que faremos agora?”, disse o presidente, as palavras soltas no ar, sem destino.

Os dois demoraram para responder. “Paulo, nós não podemos ir além disso. Correríamos muitos riscos, e você prometeu…”, lembrou José Carlos Brunoro. Sua voz calma sempre passou confiança ao presidente, mas agora a lembrança da promessa o deixou irritado. “Eu sei o que prometi, Brunoro. Mas às vezes acho que estou diminuindo o Palmeiras.”, lamentou Paulo Nobre.

“Você precisa colocar o clube nos trilhos. Foi para isso que foi eleito, Paulo, é disso que o clube precisa agora”. Nobre sabia que Brunoro estava certo, mas algo naquilo tudo o incomodava. Lembrou da sua adolescência sem títulos. Não queria repetir aquela história.

“Mas para onde esse trem está indo?”, pensou. Desde sua posse, era a primeira vez em que Nobre pensava se o que estava fazendo era o certo. Muita coisa melhorou desde que se tornou presidente, tinha consciência clara disso. A derrota para o Ituano, entretanto, foi um baque inesperado. Será que estava fazendo algo de errado?

“Nossa situação financeira está ruim, presidente. E, você sabe, dinheiro não dá em árvore. Se quisermos manter o Alan, teremos que vender outros jogadores”.

Omar Feitosa deixou de lado suas anotações. “O Gilson disse que o Kardec é fundamental para o time e todo o elenco gosta dele. Se ele sair, vamos demorar um ou dois meses para nos reajustarmos”.

O presidente sabia que era como jogar fora todas as chances nos campeonatos que o time ainda disputaria aquele ano, por menores que fossem. Sendo racional nos gastos, aumentou o número de sócios-torcedores, começou a pagar os salários em dia, montou o melhor time dos últimos cinco anos. Ainda assim, os resultados não mudavam. Sim, Brunoro estava certo, ele não poderia colocar o futuro do clube em risco para tentar ganhar agora.

Paulo Nobre levantou e olhou pela janela. O centro de treinamento iluminado apenas por algumas lâmpadas isoladas. Cada lâmpada iluminava algo em especial.

Palmeiras, Campeão do Século XX.

Palmeiras, o maior campeão nacional.

Os escudos de toda a história do Palmeiras.

Nobre lembrou que o Palmeiras seria o mesmo quando ele deixasse a presidência. Virou para os dois, tirou o celular do bolso e disse: “Me decidi, vou ligar pra ele”. Brunoro e Omar se entreolharam, sem entender.


“Oi, Alan, aqui é o Paulo, tudo bom?”.

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