terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

[Coluna] Era uma vez no Palestra Itália

Paulo Liebert/Estadão
por Ricardo dos Santos

Nada como estrear lembrando da primeira vez certo? Vou muito pouco ao estádio, no total acho que não deu dez partidas, mas posso dizer que toda ida ao estádio acontece algo, no mínimo, diferente. Logo em minha primeira vez - aquela que a gente não esquece - o inusitado já apresentou seu cartão de visita.

Crianças com a bisavó, encontrei a esposa e vamos ao prélio, mas não antes de comprarmos uma camiseta falsa do Verdão (que usei por muito tempo, valor sentimental sabe?) e dois gorros verdes - era final de ano.

Uma vez instalados na arquibancada ao lado da Mancha Verde - aquele setor central do Palestra Itália, depois renomeado de "Setor Visa"- minha digníssima se vira e diz: "Queria avisar para a minha mãe (na verdade avó, mas deixa pra lá) que estamos bem".

Poderia pegar meu celular e ligar para a matriarca e dizer "Estamos bem" certo?

Errado.

Estamos em 1999 e o meio de comunicação das massas quando na rua é esta atual peça de museu: o orelhão.

Inocente (mas se chamar de burro também serve), desci da arquibancada, me dirigi para entrada e perguntei ao PM sobre um orelhão. Ele disse: "Só lá", apontando para o campo...

Já voltei pronto pra dizer que sua mãe (avó... tá, tá) sabe que está bem, agora vamos ver o jogo mas... cadê ela?

Daí se deu a seguinte situação: eu andando lentamente como um míope procurando algo no horizonte e ela gritando meu nome como uma desesperada na arquibancada, o que acabou gerando a comoção por parte de um hilário grupo: o velho canceroso (que fumou todos os maços durante o jogo), o pai do garotinho gorducho, o garotinho gorducho e uns moleques da Mancha que vieram ajudar só pra sacanear, mas depois gritavam com vontade.

A situação que se seguiu foi a Mancha Verde gritando "Ricaaaaaaardo, Ricaaaaaaardo, Ricaaaaaaardo"...

Quando ela viu que a resposta para "Achou o orelhão?" foi um olhar homicida e um grunhido, se contentou e nos concentramos no jogo.

Nós marcamos, eles marcaram e o jogo caiu em um empate modorrento, até que o Caio Ribeiro (ainda de chuteiras, e não de sapatênis) vai cobrar um lateral de frente para a minha pessoa - na realidade, de costas - e sabe como é, primeira vez no estádio você quer gritar tudo, mesmo quando os outros estão na pausar pra comer amendoim.

Então mandei um sonoro "EI CAIO SEU V... FILHO DA P... VAI TOMAR NO..." mas tão alto, tão alto, que ele olhou pra trás, como quem diz: "Pra que tanto ódio, jovem?"...

Todos riram.

E mesmo com o empate que deu o título da Copa Mercosul ao Flamengo, mesmo se lascando pra chegar em casa sem metrô, a minha primeira partida no Palestra Itália foi mais que inesquecível, foi folclórica.

Claro que alguns dizem que não foi a Mancha Verde inteira que gritou meu nome, e que o Caio olhou para o banco de reserva, mas a verdade eu contei a vocês - ao menos a minha verdade.

Há outros episódios como "A garrafinha prometida", "No bar com os rivais" e "Rolêzinho de Trio Elétrico" que, se eu tiver oportunidade - e vocês paciência -, eu compartilho.

E viva o Majestoso da Pompéia! 

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