segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

[Coluna] Não curem a ferida

Foto: Reprodução/Tumblr
por Pedro Reinert

Lendo o Estado de São Paulo na semana passada, me deparei com uma interessante colocação do jornalista Paulo Calçade: "As dores da queda são os pilares do novo Palmeiras. Estão no rosto de cada jogador, de quem trabalhou pelo retorno e de quem chegou sabendo o tamanho do desafio." A equipe que atravessara os cantos mais inóspitos do país em 2013 demorou, mas acabou aos poucos encontrando o que faltava para tornar-se um time de verdade: identidade.

Identidade no sentido de personalidade, de mostrar o objetivo e a razão da equipe quando joga, mostrando claramente como joga e porque joga. Ao mesmo tempo, identidade no sentido de identificação, de sustentar um ideal pelo qual todo o clube e a torcida puderam se envolver e se reunir de uma forma que há tempos não se via nas arquibancadas alviverdes.

Jogando com raça, determinação e vontade, o time surpreendia com ótimas - e simplíssimas, diga-se de passagem - atuações, chegando ao ponto de encher de alegria os olhos daqueles que até outro dia se desconsertavam de nervosismo ao ver Caio Mancha, Charles e tantos outros perebas.

Ainda temos nossos perebas no elenco - ou os "limitados", como sugerem os políticamente corretos -, mas hoje são perebas com uma essência diferente. Não digo que gosto de ver Mazinhos e Juninhos correndo com a bola por aí, mas a força de vontade de cada jogador na atual campanha muitas vezes se fez inconstestável.

Manchete do Globo Esporte ressaltando a ótima fase da equipe
Foto: Globo Esporte
Pois bem. Em várias oportunidades, encontrei referências à equipe do Palmeiras como "o time a ser batido" - não nego que realmente éramos no início deste Paulistão, mas depois de tempos tão conturbados como os que passamos, essa expressão causa grande estranheza.

Uma coisa é verdade: o advento da TV Palmeiras, as incontáveis ações de marketing envolvendo o centenário, as especulações sobre Seleção, os lançamentos de uniformes, a presença massiva da torcida no estádio e a contratação de mais e mais volantes jogadores nesse curto período de tempo inconsciente e discretamente acabaram colocando um salto alto em nossos pés até então descalços.

O empate contra o SCCP e a fatídica derrota para o Botafogo-SP retomaram uma lição que, quando se trata de Palmeiras, nunca deve ser esquecida: essa história de "intocabilidade" e "soberania" não funciona pra cá - inclusive, deixemos esse último termo lá no Jardim Leonor! -. Não somos um clube que se dispõe a subir em salto alto, nunca fomos e nunca seremos.

Se não me falha a memória, uma das últimas e mais marcantes vezes que fomos apanhados sob esse salto alto ocorreu logo após uma épica classificação e uma heróica vitória sobre o Colo-Colo na Libertadores de 2009. Depois daquelas semanas, tudo parecia estar ao alcance do batalhador esquadrão palmeirense. Agora, alguém se lembra dos jogos conseguintes versus o Nacional (URU)? Talvez as duas partidas mais patéticas da última década, que nos renderam uma traumática eliminação.

Desde sempre me comporto para não cair em falsas expectativas. Torcer para o Palmeiras não é cantar vitória e nem olhar de cima.

Talvez os resultados desfavoráveis quebrem o tamanco e façam nossos jogadores voltarem a pisar no gramado do jeito que aprenderam muito bem a fazer até este capítulo da história.

Sempre avante, mas com humildade.





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