quinta-feira, 26 de setembro de 2013

[Coluna] Protagonistas ou coadjuvantes

Foto: Fernando Donasci/UOL
por Dimitrius Pulvirenti

Quem me acompanha no twitter, sabe que adoro criticar a organização do futebol brasileiro. Em termos de atração de interesse, o Campeonato Brasileiro é patético. Isto é, as pessoas não vão nos estádios só por causa da suposta violência ou da falta de qualidade estrutural: na minha opinião, não o fazem porque os times e os responsáveis pelo torneio não proporcionam ao torcedor uma experiência agradável em várias esferas: esportiva, logística e interativa, entre outras. Nos últimos dias, após a divulgação de um calendário ATERRORIZANTE, um grupo de jogadores lançou um movimento, o Bom Senso F.C., para tentar mudar o calendário. Ótimo, mas onde o Palmeiras entra nisso

Na última década, o Palmeiras deixou de ser protagonista no futebol brasileiro não apenas dentro de campo, mas fora dele. Não propôs uma mudança importante. Não questionou nada. Só fez dizer "sim, senhor" ou seguir feito ovelha outros clubes que tomaram para si a liderança em movimentações relevantes - notadamente Andrés Sanchez e o Corinthians na implosão do Clube dos 13.

Não vai ser fácil mudar o calendário para um sistema mais racional, mas não se trata só disso. Outras coisas são relevantes: o limite de estrangeiros num time, por exemplo, reserva de mercado incompreensível. Um jogador estrangeiro de bom nível custa menos que um jogador médio brasileiro.

Foto: Divulgação/Vinicius Rodrigues/FPF
Durante sua história, o Palmeiras se notabilizou por ser um time capaz de pensar fora da caixa. Primeiro a ter um preparador de goleiro, primeiro a colocar publicidade atrás de jogadores, treinadores e dirigentes em entrevistas, primeiro a firmar um contrato de co-gestão do futebol.  Após 12 anos de Mustafá, o Palmeiras acabou entrando para o establishment político. Na torcida, o discurso encontra eco: criou-se um ambiente de que é necessário ter conexões, aliar-se a quem não pode vencer, enfim, jogar o jogo.

Mentalidade que contribui para o afastamento do Palmeiras de sua identidade. Amorfo, vai jogando no lixo tudo o que o identificava ou poderia identificar em relação aos outros clubes. Tornou-se cada vez mais refém do italianismo de quermesse (proj. @elgroucho), que é o marketing preguiçoso, óbvio, que só faz retomar um período histórico do clube que não encontra sentido tanto no presente do clube como no panorama demográfico de São Paulo atualmente. Isso pra não falar de slogans que são trechos do hino ou de cantos da torcida... mas isso é tema para outro texto.

A contestação do estabelecido (ou, como certa vez falei com o @r_evangelista, essa vinculação à contracultura) criou cenários bizarros: em um período, o Palmeiras decidiu, após demitir um treinador, criar um comitê composto por três jogadores e um diretor (ou coisa que o valha) para treinar o time. Até que funcionou, mas depois o Palmeiras acabou contratado um técnico. Uma particularidade de um clube nem sempre é algo que sempre funciona bem, mas algo que o define.

Infelizmente, o Palmeiras perdeu mais essa característica: a de não aceitar o que está posto, tentar mudar, inventar, questionar.

No movimento criado pelos jogadores, apenas Valdivia e Fernando Prass assinaram. Juninho SEQUER SABIA DO QUE SE TRATAVA. Para vencer, o Palmeiras não precisa se aliar ao que há de mais obscuro no futebol brasileiro: precisa ter opiniões fortes, afirmar-se enquanto personagem importante nesse cenário. Pra vencer, precisa montar times bons e não aceitar quando é injustiçado. Precisa voltar a ser Palmeiras.

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