sábado, 21 de junho de 2014

[Coluna] Heroico


por Filipe Rufino

Eu tinha exatos dez anos, quando do sexagenário da Arrancada Heroica. No maldito ano em que caímos pela primeira vez, algo bom aconteceu: descobri quem era Oberdan Cattani.

Algumas reportagens na TV em homenagem àquele time e eis que surge um homem, bem idoso, com um bigode preto em demasia e que acompanhava a curva de seus lábios, diferente de qualquer bigode que eu já havia visto. Ao fazer a sua pose tradicional, com as duas mãos abertas em frente ao corpo, me assustei: era possível um ser humano normal ter mãos tão grandes? (Hoje eu sei que a resposta é não, não é possível. Seu Oberdan estava além de nossa compreensão do que é "normalidade".)

Perguntei ao meu pai quem era aquele senhor. Meu pai, um bigodudo convicto de 12 de Junho de 1993 - quando prometeu que não rasparia a sua lanugem se o Palmeiras saísse da fila - até 25 de Julho de 2000 - quando prometeu o inverso: se aquele time que havia perdido a final da Libertadores para o Boca, e agora sem o seu esteio, Scolari, fosse campeão da Copa dos Campeões, ele rasparia seu bigode em sinal de protesto - respondeu, sem pestanejar: "Ele jogou no Palestra e no Palmeiras. É um dos maiores". Mais alguns minutos de conversa e descobri que o homem de bigode negro e mãos impressionantes havia chutado a bunda de nossos inimigos durante a Segunda Guerra Mundial.

Com o tempo (e a internet) descobri a importância histórica e social do que aconteceu em 1942. De como éramos casca grossa, de como resistimos aos discursos inflamados de ódio de Getúlio Vargas, de como fizemos o inimigo sujo fugir de campo. E Seu Oberdan, mesmo que sem querer, havia se tornado o único representante de tudo isso. A ilustração viva e vívida do verbete PALESTRINO. Um homem que além de vencer onze títulos com a camisa do Palmeiras venceu as vaias do Pacaembu, os que não suportavam ver a italianada vencer.

Não vou me alongar. A longevidade de Oberdan fala por si só. Além dos 95 anos. Paulista com orgulho. Palestrino com a alma. Eterno. Heroico.

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