quinta-feira, 8 de maio de 2014

[Coluna] Alguém se lembra da TV Palmeiras?



Por Pedro Reinert

Eu sabia. Por todo e qualquer canto que eu passei nesses últimos três meses em que a discussão se fizesse em torno do futebol brasileiro, eu despejava um pouco da minha porção de desconfiança acerca da situação vivida pelo Palmeiras - exatamente como está ilustrado no meu tweet logo acima (de 28/03). Juro que não era por mal, afinal, em que mundo um torcedor desejaria o mal do próprio clube?

Mesmo com a consciência de que Seo Gilso não é técnico para um time como o Palmeiras e que 60% do nosso elenco também não é qualificado o bastante para defender nossas cores, o cenário não parecia assim tão negativo. Sempre há aquela pontinha de esperança.

O negócio é que, depois de se acostumar com o modus operandi do clube, o que se espera é que a boa fase seja seguida de tempos de crise. Acontece, e aconteceu de novo.

FOTO: Rodrigo Capote/UOL
Eu estava no Pacaembu quando o favoritíssimo ao título Paulista sucumbiu diante do Ituano. Ao sair do estádio e fazer o caminho de casa, eu teimava em martelar que a eliminação havia acontecido por causa de falhas normais, coisa de jogo nervoso; falta de atenção, abandono da disciplina e etc. Eu, ingênuo, teimava também em pensar que aquele jogo havia sido um caso a parte - que nos torneios conseguintes, voltaria ao gramado aquele time que fez jus à camisa em grande parte do Paulistão.

As atuações medíocres na primeira fase da Copa do Brasil pouco me preocuparam, pra ser sincero. Entendo que a motivação pra fazer resultado num lamaçal em Rondônia não seja das maiores. Mas aí veio o Brasileirão e... bom, você sabe.

Depois disso, o Fluminense reiterou que aquela boa fase era só coisa da minha imaginação; a ideia de que tínhamos (até horas atrás) Seo Gilso à frente de homens como Josimar e Tiago Alves começou a ficar mais clara e alarmante na minha mente.

Então, apareceu o jogo contra o Flamengo. E, ah, que saudades que eu tinha de ver o Palmeiras jogando assim num campeonato desse nível... Um primeiro tempo digno de time de Série A. 2x1 no placar em pleno Maracanã.

Talvez nem fosse coisa da minha cabeça mesmo. Talvez o time, com todas as suas limitações, problemas e outros agravantes (como a gestão da diretoria, novela Kardec e tudo mais), estivesse mesmo redondinho e pronto para brigar por alguma coisa boa na primeira divisão novamente.

Porém, no momento em que Fernando Prass deixava o gramado contundido pronto para dar seu lugar a Bruno, tive uma epifania; isso já havia acontecido nesse ano, e exatamente contra... o Ituano.

FOTO: Buda Mendes / Getty Images South Africa

Não. Claro que não. É óbvio que não. Por que eu fui me enganar assim?

Três gols do Flamengo e uma ferida enorme na esperança que foi construída com os primeiros meses de temporada. Essa ferida, por sua vez, gerou um descontentamento e uma ira que pareciam já estar formados dentro de cada um dos palmeirenses. Como se, por acaso, as coisas estivessem tão bem que nós já amadurecíamos a angústia, cientes que a casa ia cair.

O nosso curativo parecia ser a partida do meio de semana, contra o Sampaio Correia, no Castelão. Quem sabe, liquidar o resultado logo no jogo de ida amenizaria a tortura.

Não. Claro que não. É óbvio que não. Por que eu fui me enganar assim?

Quer dizer, até parecia que um eventual resultado positivo poderia dar as caras, mas nada feito. Não bastasse o jogo pífio, o Palmeiras sucumbiu mais uma vez, agora diante do pequeno Sampaio Correia, que virou a partida nos minutos finais com gols da dupla Edimar e Edgar.

FOTO: Reprodução / Fanfulla

Desespero, angústia, raiva e apreensão dominaram toda a nossa torcida durante as últimas semanas - com e sem a bola rolando.

Nos bastidores, Paulo Nobre e José Carlos Brunoro já há algum tempo dando um espetáculo às avessas, com uma política controversa que não mudou grande coisa no cenário macroeconômico do clube.

No gramado, o mesmo time desamparado e desalmado dos últimos anos dando voltas e voltas em vão, dependendo das eventuais deficiências e falhas no time adversário (não estamos mais na Série B!) para conseguir chegar às redes.


Agora, alguém se lembra do que vivemos no início do ano? O time a ser batido nas competições, que levaria o Brasileirão com uma mão nas costas e com o elenco reformulado; O clube com a melhor média de público do país, que cativava e reunia a torcida com uma ótima gestão de comunicação e parecia estar mais do que tranquilo para viver seu centésimo ano de vida.

Em questão de dias, semanas, tudo isso se esvairou. Todos os resquícios dos bons meses que tivemos estão arquivados no canal que simbolizou todo aquele tempo, que deu uma identidade ao time que parecia - e só parecia - emergir.

A demissão de Kleina hoje é só o primeiro de muitos passos que terão de ser dados com propriedade se quisermos retomar o caminho das glórias. Mas nestes dias, infelizmente, o cenário só nos faz questionar e dimensionar onde pode estar o fundo do poço da vez - outra vez.

Nossos corações hoje - assim como o gramado do Castelão ontem e a Sociedade Esportiva Palmeiras há algum tempo - estão esburacados e remendados. Coisa alguma flui com tranquilidade e facilidade.

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