Foto: Esporte Interativo |
As grandes duplas da história do futebol foram formadas por jogadores que ocupavam a mesma faixa do campo. Pelé e Coutinho, Dudu e Ademir, Bebeto e Romário ou Xavi e Iniesta são personagens que vêm instantaneamente à nossa mente quando falamos de duplas futebolísticas. Portanto, como podemos dizer que Luis Edmundo Pereira, um zagueiro, e João Leiva Campos Filho, um meia, formaram uma das maiores duplas da história do futebol mundial?
Leivinha, natural de Novo Horizonte (432 quilômetros distante de São Paulo) começou sua carreira no Linense, mas foi na Portuguesa que fez sucesso. Em 1970, após marcar 36 gols em apenas 31 jogos, marca que já seria excepcional para um centroavante, que dirá para um meia, chamou a atenção do maior clube do estado. A Portuguesa - como é de praxe - dificultou demais a negociação. Queria muito dinheiro e queria à vista. Minguinho, lendário dirigente e organizador do Carnaval do Palmeiras, (do qual se pode ler mais neste texto do não menos lendário Jota Christianini) não só convenceu a Lusa a vender como pagou a transferência com a receita do baile de carnaval do Palmeiras. Outros tempos…
Foto: Revista Placar |
Quando Leivinha chegou ao Palmeiras, um ex-torneiro mecânico e centroavante do time amador da General Motors, baiano, mas que cresceu no ABC paulista, era um dos pilares do time: já como zagueiro, LUISÃO CHEVROLET (apelido que fazia alusão não só ao seu ex-emprego, mas também ao seu estilo de jogo) veio do São Bento de Sorocaba em 1968 para um período de testes de seis meses. Apesar de reserva durante esse tempo, o Palmeiras resolveu comprar o passe do jogador, que ficou a contragosto: queria voltar pra Sorocaba pois sentia saudades da sua noiva Marilu.
Foto: Revista Veja |
Já titular absoluto, Luis Pereira viu Leivinha entrar em campo contra o Corinthians, marcar e ser expulso - o rival venceu por 4 a 3. Depois desse jogo, Leiva também conquistou a titularidade do time e protagonizou um dos erros mais crassos da história da arbitragem brasileira: na final do Paulistão de 1971, o SPFC vencia por 1 a 0 quando, aos 18 do segundo tempo, Leivinha, com uma cabeçada potente, empatou o jogo. O digníssimo Armando Marques anulou a jogada, dizendo que Leivinha havia feito o gol com a mão - ignorando até mesmo o seu auxilar que havia corrido para o meio-campo. Ainda em 1971, no mês de novembro, Luisão fez um dos gols mais inusitados - e bonitos - da nossa centenária história. Chegou rasgando para uma dividida na meia-cancha e acabou encobrindo o goleiro Jair, do Grêmio.
Veio o fatídico ano de 1972, um dos mais gloriosos anos da Sociedade Esportiva Palmeiras. Nos dois torneios de pré-temporada - que nitidamente tinham mais importância do que hoje em dia - o Palmeiras de Osvaldo Brandão se sagrou vitorioso. No Paulistão, a segunda Academia, cuja espinha dorsal era formada pelo goleiro Leão; os remanescentes da primeira academia Ademir e Dudu; e os novos astros, Pereira e Leivinha; sobrou: campeã invicta. No segundo semestre veio o título do Brasileirão e Leivinha foi o goleador máximo do time: 15 tentos anotados. Liderada por Pereira, a defesa tomou apenas 44 gols no ano.
"Eram tantas conquistas que estávamos tranquilos, sem pressão, certos da vitória" disse Luis Pereira, já em 1993, sobre o momento que viveu no Palmeiras. Ele estava certo. Jogando com calma, posse de bola, e com a melhor defesa da história do Palmeiras no Nacional (o time tomou 13 gols em 40 jogos, média de 0.33 por jogo), o Palmeiras venceu novamente o Brasileirão em 1973. Leivinha vivia a melhor fase da carreira: foi vice-artilheiro do certame com 20 gols marcados.
O último grande título da dupla pelo Palmeiras viria com requintes de crueldade: 1 a 0 sobre o rival, em um Morumbi com 100 mil deles. Leivinha, de cabeça, ajeitou para Ronaldo, que fuzilou. Eles ficariam mais três anos na fila - já eram vinte. Os gritos de “zum zum zum é vinte e um” e a histórica foto de Luis Pereira consolando Rivelino marcaram eternamente aquele dérbi e aquela taça.
Foto: Acervo de Imagens da SEP/Site Oficial |
Tanto Luis Pereira, quanto Leivinha, começaram a ser nomes constantes nas listas de Zagalo na preparação para a Copa do Mundo de 1974, que seria disputada na Alemanha. Em 1973, contra a Bolivia, Leivinha marcou o milésimo gol da seleção brasileira em todos os tempos.
A Copa de 1974 foi o auge da carreira de ambos pela seleção. Usando a camisa dois ao invés da três, Pereira fez um excelente mundial. Esbanjando virilidade, acabou sendo o primeiro jogador brasileiro expulso em uma Copa do Mundo, por entrada no holandês Neeskens. Nós o respeitamos ainda mais por isso. Ao todo, Luisão fez 38 jogos pelo selecionado nacional e disputou sua última partida em 1977.
Já Leivinha foi vítima das circunstâncias: Jairzinho, furacão da Copa de 70, se recusava a jogar de costas. Como Zagalo não tinha muitas opções, colocou Leivinha pra jogar no comando de ataque. Não é de surpreender que os dois primeiros jogos da seleção no mundial terminaram em 0 a 0. No terceiro jogo, Leivinha sentiu uma contusão, saiu do time e não voltou mais. Na somatória geral foram 27 jogos de Leivinha pela seleção e 7 gols marcados. Em ambos os casos, a sensação que fica é a mesma: eles poderiam ter tido uma história mais representativa pelo escrete nacional. Azar da seleção…
ATLETICO DE MADRID
Foto: colchonero.com |
O resultado para o Atletico não poderia ser outro: sucesso. Logo na estreia, Leivinha marcou uma tripleta, levando ao delírio a torcida no Vicente Calderon. Um dos gols foi tão bonito, que a revista argentina “El Gráfico” o incluiu na sua lista de gols mais bonitos da história. O homem que marcou o milésimo gol da seleção, também foi responsável por anotar o gol de número 30.000 da Liga Espanhola. Luis Pereira não ficou pra trás e logo era chamado pela torcida rojiblanca de “el defensa espectáluco”. Em Madrid, a dupla conquistou a Copa do Rei, a Liga Espanhola e um lugar especial no coração de um das mais fanáticas torcidas do mundo.
Foto: El Colchonero Wiki |
Ídolos em todas as cores, Pereirão e Leivinha formaram uma dupla inusitada. Mas amada e eternizada pelos amantes do bom futebol e principalmente pelos defensores das bandeiras que representaram.
Eu tive a oportunidade de assistir em campo esses dois monstros . Sem duvida juntamente com Dudu e Ademir , os responsáveis por este caipira do interior do Paraná, ter se tornado Palmeirense .
ResponderExcluirMuito bacana, cara! Eu daria um braço pra poder ver esse time de 71-74 em ação. Sinta-se um privilegiado. Abraços.
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