depoimento de Vicenzo Ragognetti, um dos fundadores do Palestra Italia, registrado em 1968.
Passada meia noite, depois de uma longa, barulhenta e violenta discussão, eu saltei em cima de uma cadeira e gritei:
‑ Aqui viemos, meu grupo e eu, para fundar uma sociedade de futebol. Futebol entendem? Vocês só falam em clube de danças, de representação de peças teatrais pelos seus "filo dramáticos", e nem ligam para o futebol. Ou vocês acatam a idéia de tratar TAMBÉM de futebol, ou eu e meu grupo abandonamos o recinto!
Éramos moços. O que faz o moço sem violência?
Do outro lado do salão, surgiu Luis Cervo, também montado sobre uma cadeira. Irruente e fogoso, o saudoso amigo aderiu "in totums" também ameaçando:
‑ Ou vinga a idéia de Ragognetti ou eu e o grupo dos Matarazzo vamos embora!
Houve silêncio. No fim depois de vários discursos enrolados e gaguejantes, foi aprovada a idéia unanememente. Faz-se na hora as eleições. Cervo abiscoitou o cargo de secretário Geral e eu o de diretor esportivo.
Madrugada. Fomos todos tomar chopp no bar vizinho, cantando, falando, sonhando. Sobretudo, sonhando...
Éramos moços... E o moço que não sonha nasceu velho.
No Fanfulla, convocados por mim, com a assinatura do Cervo pedíamos a todos os italianos e filhos de italianos que soubessem dar com perícia e arte um chute numa bola que na manhã de domingo se encontrassem no Largo São Bento. Apareceram mais ou menos uns trinta e lá fomos para o longínquo bairro de Vila Mariana, além da estação de Bonde da Light, à procura de um terreno baldio, indicado ao Cervo por um freguês do Matarazzo.
Encontramo-lo. Não tinha grama nem paus de gol. Não faltava poeira que se levantava a cada nosso chute falho. Tiramos as roupas e todos, já de calção por baixo, aparecemos em trajes excêntricos de futuros craques. As roupas serviram para substituir os paus de gol, com um tijolo em cima, para não voarem com o soprar da ventania.
Iniciamos a peleja. Quinze de um lado, dezoito de outro e lá fomos todos correndo atrás da bola, comprada com um rateio entre o meu grupo, da rua Santa Efigenia, e o grupo do Cervo, empregados do Matarazzo.
O vozerio era infernal e contínuo. Eu, com pose de centroavante e capitão do time, era o que mais gritava e menos jogava. No fim, o meu saudoso amigo de infância, Jorge Giannetti (fundador do clube e Sócio nº 1 do Palmeiras, até a sua morte) na ala direita, pegou a bola, parou o jogo, e com a sua inata serenidade, me disse:
‑ Ou você para de berrar e joga futebol, ou eu me retiro com bola e tudo!
A pelada, sem tempo algum, ininterruptamente, foi até ao meio dia...
26 de agosto de 1914... Éramos moços, quase adolescentes, e gostávamos de sonhar um grande clube para os italianos... São Paulo abandonava as vestimentas de província e tomava a fisionomia de grande cidade... No campo baldio de Vila Mariana, içamos, com fé e entusiasmo, o pavilhão do Palestra Italia, esta Sociedade, que hoje é uma das maiores do mundo...
Ave, Palestra Italia! Salve, Sociedade Esportiva Palmeiras!
Che bella storia! pieno di emozioni come tutti Italiani ...
ResponderExcluir(Que linda narrativa, cheia de emoção como tudo Italiano...)
Urra meu... e eu num me sabia nada disso, meu!