FOTO: Arquivo pessoal |
Acordei na manhã de ontem (21) com o alarme gritando na minha orelha. Só cinco horas de sono, pelas minhas contas. Talvez não seria o suficiente, mas (in)felizmente era o que tinha. Nada me faria me enrolar nas cobertas e ficar dez, quinze minutos a mais na cama. Nada nesse mundo poderia se fazer mais importante do que esse sábado.
Sábado que, na verdade, começou na quarta feira; Eu tinha acabado de chegar do trabalho e recebi uma ligação do meu pai. Perguntou se eu estava bem e estranhamente também perguntou se eu faria algo na manhã de sábado. Respondi aquele "acho que não... não sei ainda" de quem tá com medo de ser intimado a ir pra casamento, pra igreja ou pro mercado. Com um tom autoritário, ele retrucou: "Então tá, não marque nada." Engoli a seco, já me despedindo das preciosas horas de sono; "Por que, pai?". Conforme sua voz foi saindo, eu senti um sorriso se abrindo do outro lado da linha. "Vamos na inauguração do Allianz Parque ver Ademir da Guia e Evair, porra!"
Depois daí, quinta e sexta feira foram um grande borrão na minha memória. Aí enfim, veio a hora de vestir minha surrada camisa número 7 do Edmundo e fazer um caminho que eu não fazia há quatro anos.
Ao estacionar o carro no terraço do West Plaza, deu pra ver aquele gigante de ferro e aço e seus braços verdes esgueirando-se entre as construções e as árvores que sempre estiveram ali. Foi como se, num piscar de olhos, literalmente de um dia pro outro, o antigo Palestra Itália tivesse evoluído para sua forma mais moderna sem que ninguém notasse. Todas as fotos, vídeos e animações que vi nos últimos anos não fizeram o mínimo sentido. Nada se comparava com o que agora existe naquele lugar.
Toda a caminhada da Antártica para a Turiassú passando por baixo da Passarela da Arrancada Heróica de 1942, o santíssimo ritual nas esquinas com a Caraíbas até o glorioso desfile por metros e metros pela calçada direita, sempre em fila indiana, que desagua no portão principal - hoje, Portão A.
Era como se eu estivesse sendo engolido. Conforme fui chegando perto da entrada, a enorme construção me olhava de cima, com imponência, porém ao mesmo tempo que sua estrutura metálica refletia todos os sorrisos e emoções dos palmeirenses que andavam em meu entorno. Não caiu a ficha de que tudo aquilo era real até atravessar a catraca.
Veio, então, a hora de subir as escadas rumo a arquibancada - que, pra mim, em qualquer jogo, em qualquer estádio, é o momento mais puramente bonita do espetáculo. No corredor que dá caminho aos assentos, aquele ofuscante clarão que só se desfaz com o primeiro passo que se faz para dentro dele, e ontem se desfez dando lugar à uma imagem que me deixou imóvel; foram três passos para dentro do estádio até eu ficar imobilizado, congelado, tentando encontrar alguma reação natural para aquele momento. Na minha cabeça, passei horas parado ali tentando mensurar a magnitude daquele lugar.
Fui acordado pelo meu irmão que gritou e sinalizou para que eu subisse até o lugar indicado no ingresso. Agora, sentado, mas sem deixar de me sentir uma criança diante de tanta grandiosidade, fui entretido por alguns vídeos no telão, animadores em campo e algumas homenagens. Parecia que o tempo de morrer de emoção já tinha passado. Eu estava errado, pra variar.
Entraram os jogadores - Ademir, Marcos, Velloso, Galeano, Evair, Sampaio, Jorginho, Cecílio... - e se colocaram perfilados para a execução do hino do Palmeiras e do hino nacional. Marcos Kleine, o guitarrista, apareceu pra interpretar o do Palmeiras, como de costume. Ao fundo, narrações históricas como a do pênalti de Marcelinho Carioca defendido por Marcos em 99... E aí não deu.
Olhei pro gramado, olhei pra toda aquela estrutura colossal, pra cada um dos jogadores em campo, pra torcida do meu lado... e desabei. Na minha cabeça não passou só um filme e nem alguma coisa palpável ou descritível. O que eu posso descrever é que comecei a chorar e não parei até a guitarra soar o último verso do hino.
O jogo em si, por sua vez, foi inesquecível; Marcos e Velloso com a mesma desenvoltura para dar pontes, Jorginho fazendo jus à bola que fez meu pai e tantos outros pais o idolatrarem e, principalmente, Ademir da Guia, aos 72 anos de idade, dominando uma bola forte, à meia altura, na intermediária, com a maestria e a classe dignas de um homem imortal... aliás, mais do que imortal; Divino.
Hesitei na hora de ir embora. Queria mais do que qualquer outra coisa ficar ali esperando o próximo evento ou o primeiro jogo oficial. Me senti parte de um novo capítulo na já tão grandiosa história do meu já tão grandioso clube.
Aliás, voltando ao "último verso do hino" supracitado, aquele é um verso que diz "Ostentando a sua fibra." Fibra que, no sentido figurado, significa energia, pulso e firmeza. Coisas que só existem quando o ser está cheio de si, e agora, novamente, o Palmeiras está cheio de si.
O Palmeiras, em essência, voltou a ser Palmeiras por completo e por inteiro pois tem de volta o seu lar.